17 junho 2010

Poema: Vacas Magras

A situação anda difícil
As oportunidades estão escassas
O dinheiro está em falta
Não tenho namorada
Não posso ir ao cinema
Não dá para marcar esquemas
Não posso nem mesmo ir a algum show
Pois a grana acabou, o crédito estourou
E eu não sei pra onde vou
Meu celular não tem crédito e nem bônus
O que me resta são débitos e ônus
Não me alimento como deveria
E vivo meus dias esperando o futuro a revelia

Estou vivendo uma época de vacas magras
Minhas meias estão furadas
Minhas cuecas, velhas e largas
E as solas de meus sapatos desgastadas
Mas tenho meu violão, a canção e a poesia
Meu espírito, minha liberdade e a boemia.

Meu nome está no SPC!
Não tenho carro!
E a minha bicicleta foi roubada...
Vivo as custas de minha família
Chego a sentir vergonha de mim
E das minhas condições de vida.
Gosto de teatro,
Queria muito ver Os Melhores do Mundo
Mas não tenho dinheiro nem pra meia entrada
Não sou o primeiro, o terceiro ou segundo
Tudo o que eu tenho é nada, simplesmente nada
Mas ainda assim nada é tudo o que eu tenho
Enquanto se passam os dias, as horas e os segundos.

Estou vivendo uma época de vacas magras
As mulheres não me olham com desejo
Não me notam, nem quando olho seus seios
E tudo o que me resta
É me olhar no espelho do banheiro
Enquanto faço um monólogo silencioso comigo mesmo.

Apesar dos pesares não posso reclamar
No mínimo chorar, mas prefiro sorrir
E acreditar que tudo vai passar
Pois o sol nasce pra todos
E é de graça
Tenho a minha saúde
E posso caminhar sozinho
Tenho as pessoas que eu amo
A brisa me acaricia de vez quando
Valso na chuva como uma criança
Consigo ver o céu azul todas as manhãs
Enxergo a lua e as estrelas todas às noites
E ainda vejo o sol se por nos fins de tarde

Estou vivendo uma época de vacas magras
Mas Deus está comigo
Tenho cama, comida, roupa e abrigo.
Tenho eu mesmo, família e amigos
E de forma alguma estou sozinho.
Eu tenho amor, calor e carinho.

Tenho força e determinação
Para lutar e vencer as dificuldades
Sei que dias melhores hão de vir
Não só para mim
Mas para todos que estão como eu
A fé e a esperança são o mais importante
As oportunidades surgirão do nada
E caberá a mim, ter sabedoria e sensibilidade
Para enxergá-las e agarrá-las
As coisas podem não estar
Dá maneira que eu gostaria que estivessem
Mas o que me consola é saber
Que elas poderiam estar bem piores
Mas mesmo assim não estão

Estou vivendo uma época de Vacas magras
E de espigas miúdas e queimadas
Mas tenho dignidade e perseverança
Para merecer e esperar
A época das vacas gordas
E das espigas cheias e boas.

Dom Juan Ricthelly

Gama, 2010.

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