20 setembro 2013

Jogos Proibidos

            

           Tudo não passa de um jogo, é simplesmente isso. Você me seduz e eu finjo não entender. Sorri com um ar malicioso enquanto me encara e ajo como se não fosse nada demais.
            Eu tropeço propositalmente em você para logo em seguida me desculpar pelo descuido, a observo atentamente por um bom tempo e disfarço com um olhar perdido na janela quando você percebe.
            Você me deseja eu sei, mas prefere se divertir nesse jogo de gato e rato, onde eu som Tom e você Jerry, numa provocação constante que sempre findará em qualquer outro rumo distante do que realmente somos.
            Confesso todos os dias para mim o que sinto quando estou só, mas renego a cada instante na sua presença o que mais enalteço em meu coração, te tratando como a pessoa comum que você jamais será.
            Você presta atenção em cada um dos meus gestos, em cada palavra que pronuncio, me conhece profundamente, mas insiste em me tratar como se eu fosse a pessoa desinteressante que você nem de longe acha.
            Te escrevo lindos poemas que você nunca vai ler, componho canções e arranjo melodias que você nunca vai ouvir, mas mesmo assim você está em tudo o que faço, do papel amassado que jogo fora ao olhar em silêncio numa noite de luar.
            Nós nos temos, mas não nos possuímos.
            Nos desejamos ardentemente e não nos tocamos.
            Somos as peças chaves de um quebra cabeça, que não se encaixa.
            Um nó infinito em seus lados opostos.
            Nos amamos loucamente sem a mínima demonstração explicita.

            E sabemos muito bem que esse é um jogo proibido, sem The End, onde a regra é clara. E o fogo queima, mas não consome. A chuva cai mas, não molha. O vento sopra, mas não venta.

Dom Juan Ricthelly.

15 setembro 2013

Joseph



Lembro-me bem do dia em que nos conhecemos, éramos completamente estranhos um ao outro, mas no ar despontava um certo quê de afinidade instantânea difícil de explicar para quem nunca sentiu isso. Conversávamos futilidades indo da política nacional ao corpo escultural da colega de classe.
As garotas suspiravam pelo novato de Raybun, que declamava poemas em voz alta, tocava violão e fumava cigarros, era um Bad boy engraçado que num dia futuro, um professor definiu irritado como um rebelde sem causa, e era mesmo.
Com o tempo fomos nos aproximando, através dos leves porres e do agrupamento de amigos que foi se tornando comum, em questão de meses éramos todos irmãos embriagados, caminhado cambaleantes pela rua cantando Guns n’ Roses e achando que nos conhecíamos tão bem quanto as palmas de nossas mãos, vez ou outra discutíamos acaloradamente, quase chegando ao ponto de sair aos tapas, mas logo em seguida íamos para o boteco rir de tudo como se não passasse de uma brincadeira de crianças imaturas tentando ser adultos que não éramos.
Nos apaixonamos pela mesma mulher, foram tempos difíceis, vivemos a nossa Guerra Fria, onde nos falávamos por educação, mas no fundo tínhamos uma vontade tremenda de duelarmos até a morte pelo amor de uma moça que te preferia, e o curioso é mais tarde você me confessar que desejou a minha morte, morri de ri, pois além de fazermos parte de um triângulo amoroso em que eu era a parte mal amada, coisa que me causou muito sofrimento, eu ainda tinha que morrer. Superamos isso.
Enterramos uma das melhores pessoas que já tivemos o prazer de conhecer, choramos pra caralho, mas enxugamos nossas lágrimas e seguimos em frente, sempre a olhar para trás vez ou outra, lembrando do quanto ele foi importante para nós, e olhando para o lado, desejando que isso demorasse bastante para acontecer novamente, pois nos demos conta da pior maneira que os amigos são fundamentais na vida de um homem e que quando eles se vão fazem muita falta.
Aprendi a tocar violão por pura inveja de você, ficava indignado quando via as pessoas te darem atenção enquanto você tocava e nem ao menos olharem para mim, sempre fui meio egocêntrico, então arranjei um emprego, comprei um violão e aprendi, sou grato á você por isso, pois sem você provavelmente hoje eu seria um analfabeto musical.
Me magoei com você vez ou outra, e acredito que também te magoei, normal quando as pessoas se conhecem bem, acredito que hoje o nosso grupo se conhece tão bem de uma forma que nem mesmo nossos familiares nos conhecem, pois quando estamos reunidos, não temos medo de ser o que somos, falarmos o que bem quisermos e entender, por termos a certeza de que não seremos repreendidos.
Em contrapartida, tivemos momentos antológicos, daqueles que daqui a 50 anos lembraremos com um sorriso no rosto, e não conseguiremos explicar para alguém, porque só quem estava lá será capaz de entender.
            Inevitavelmente seguimos por rumos distintos, você nos abandonou tornando-se exatamente aquilo que abominava, fico feliz por sua felicidade, mas triste por olhar pra você e chegar à conclusão de que aquele cara do Raybun lá atrás não existe mais, ás vezes olho em seus olhos, e lá no fundo vejo que ele ainda está lá em algum lugar remoto, tentando se conformar com a nova roupagem que foi sendo paulatinamente coagido a vestir.
Lembro de você ter ficado chateado quando eu disse uma vez que se eu ainda tinha alguma consideração por você, era em razão da pessoa que você havia sido, e não da que havia se tornado. A verdade é que você é uma pessoa maravilhosa, me expressei mal. Eu devia ter dito amigo ao invés de pessoa. E repito que se hoje com certo receio o considero como amigo, é em respeito à boa lembrança que tenho cada vez mais distante do cara que tocava vilão e jogava sinuca comigo vez ou outra.
Por outro lado entendo que cada pessoa tem o seu caminho, e por mais que as amemos, uma hora a encruzilhada chega e temos que nos separar. Acredito que a vida é uma oportunidade dentre tantas que recebemos no decorrer da eternidade para evoluirmos e um dia nos tornarmos dignos do Criador, que a maioria das pessoas chama de Deus. E que as pessoas que encontramos nessa Starway to Heaven ou Infinita Highway, tornam a estrada mais agradável contribuindo com o nosso progresso. Saiba que você e os nossos amigos (que você esqueceu) contribuíram muito para o meu progresso como ser humano, e espero de alguma forma ter contribuído com o seu.
Te amo e morro de saudades da sua amizade, que por mais que você diga que ainda a temos e eu me force a acreditar, eu não sinto. Gostaria muito de poder te visitar, mas por uma questão de reciprocidade e orgulho eu não consigo. Se um dia precisar de mim, apesar de tudo, conte comigo.

P.S: “Eu suportaria embora não sem dor, a morte de todos os meus amores, mas não suportaria a morte de todos os meus amigos.” Paulo Santana

Calado





Ensina-me a amar-te silenciosamente
De um jeito que nunca fui capaz
Me levando da loucura à serenidade
A implorar por sua clemência inocente
Em minha mente por um segundo de paz
Numa dança entre a omissão e a verdade

Não perco um só de seus movimentos
E suplico internamente a cada instante
Por em teus braços um único momento
Sou livre na agonia de não ter-te incessante
Sentindo a morte que é a tua ausência
Desejando prisão perpétua em sua presença

Me olhe de uma forma diferente.
Sorria pra mim de um jeito especial.
Converse comigo atentamente.
E perceba que eu sou seu igual!

Me deixe sentar ao seu lado
Ou mesmo atrás de você
Prometo mais nada dizer
E sentir tudo isso... Calado.

Dom Juan Ricthelly

Poema



Eu vou te contar que você não me conhece
E eu tenho que gritar isso
Porque você está surdo e não me ouve
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei e não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome e eu tenho
Você é rosto na multidão
E eu sou o centro das atenções
Mas há mentira na aparência do que eu sou
E há mentira na aparência do que você é
Porque eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Busca chegar no limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância
Ou do reconhecimento dela
Entre eu e você
Existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada
Me denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com a as quais você me veste.

Fauzi Arap