13 setembro 2013

Em nome da ordem, amém.




Vejo pessoas correndo desorientadas, em meio a fumaça, enquanto uma muralha avança impiedosamente, esmagando tudo e todos que estiverem ao seu alcance, não se importando se é homem, mulher, criança, velho, jovem ou idoso. A ordem é garantir a ordem a qualquer custo, mesmo que para isso tenha que se causar uma desordem maior ainda.

            Ouço gritos por todos os lados, em tons tão distintos quanto o de uma orquestra, sendo que nessa os maestros são em um contingente superior aos espectadores que participam diretamente, sendo orientados por bastões, que atingem os seus corpos inertes perante a melodia do terror, que é temperada com pitadas de bombas e mais bombas de gás, proporcionando uma cena marcante nesse espetáculo onde a 'ordem' é a homenageada do dia em detrimento de direitos e garantias fundamentais.

            Sinto o cheiro da violência no ar e meus olhos ardem ao ponto de lágrimas caírem rumo ao chão já refrescado por jatos d'água e corpos caídos em uma úmida agonia. Minhas narinas ardem, meu corpo se contorce, tosse é consequência, e quando pergunto ao responsável o porque de tudo aquilo, ele prontamente me responde com um sorriso cínico "Filo porque quilo!"

            As cenas são fortes e os protagonistas mais ainda, querem um filme digno do Oscar da Barbárie, tendo como diretores seus superiores e governadores, ganha àquele que atuar com mais ação, e eles são muito competitivos. Sendo instruídos a responder quando esquecerem a fala: 'estamos apenas cumprindo ordens', essa é infalível, se enquadra em qualquer cena, não abrindo mão da arbitrariedade para agir da forma que achar melhor, podendo ficar em silêncio como Charles Chaplin.

            É claro que alguns animais não poderiam ficar de fora, afinal recursos não faltam para o figurino, os carros, helicópteros, cavalos e cães treinados para brincar com qualquer um que estiver a sua vista ao simples som de um 'pega esse filho da puta', recursos que por curiosidade vêm das pessoas que agora correm em direção ao nada, por razão do instinto inato de preservação da integridade física e moral que falta ao lado que tudo tem, menos o respeito pela dignidade da pessoa humana.

            Os cinegrafistas não perdem um único segundo da mais nova produção nacional extremamente realista, Tropa de Elite 3, deixando os atores principais irritados quando captam uma cena que consideram desnecessária, atacando e incluindo-os compulsoriamente ao ilustre elenco desse longa metragem, que tem como cenário o país inteiro. Ora ou outra recolhem alguns figurantes de forma abrupta, para que as cenas fiquem mais picantes.

            No dia seguinte os organizadores, parabenizam publicamente a produção pelo excelente trabalho com os efeitos especiais e aos atores que agiram exatamente dentro do roteiro, assim como foram doutrinados a fazer, embora alguns críticos insistam em questionar tal atuação, dividindo o público entre os que aplaudiram e os que repudiaram juntos com aqueles que gritaram 'independência ou morte' no meio da cena deixando o roteirista chateado.

            Insistem em dizer que tudo foi em nome da ordem pública, e que excessos não foram de forma alguma cometidos, o que vimos de forma notória e indiscutível é que a violência estatal é um 'serviço público', mais eficiente do que a própria segurança pública. Lembrando à todos que a última vez que alguém agiu em nome da ordem, ela durou duas décadas, sendo garantida como valor máximo a ser alcançado.

            Em nome da ordem, amém!



            JUAN RICTHELLY

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