22 janeiro 2013

Cirque du Soleil no Sinal.


      Verde...
            Amarelo...
            Vermelho...
Senhoras e senhores e o maior espetáculo da cidade vai começar!


Os habilidosos malabares do asfalto entram em cena, com uma maestria que capta a atenção dos motoristas que esperam o Verde, por alguns segundos, boa parte deles esquece o quão apressados estão para chegar a seus destinos ou o quanto estão estressados com aquele transito caótico da hora do Rush.
E os malabaristas continuam fazendo movimentos rápidos e precisos, cada segundo é valioso, e eles têm cronometrados em suas mentes o tempo exato que devem dedicar a sua arte e a captação de moedas.
Faltando poucos segundos eles passam entre os carros, recebendo elogios, sorrisos, vidros fechados, moedas e as raras cédulas de dois.
Ação que é respondida com:
-Gracias!
-Obrigado! – com um sotaque carregado de espanhol.
Verde... E a platéia segue.
Amarelo... Algumas aceleradas (esses perderão o próximo ato), outras freadas bruscas (esses estarão na primeira fileira).
Vermelho... E a platéia está formada.

Agora é a vez dos palhaços, que fazem algumas idiotices, arrancando risos de algumas crianças nos carros que riem como se tivessem presenciado a coisa mais engraçada do mundo.
Logo em seguida passam entre os carros vendendo pirulitos, balas e outros doces contando com o apoio dos pequenos que dizem daquele jeito que só eles sabem:
-Ah mãe eu quero!
Conseguem algumas moedas ao que respondem ‘obrigado’ com uma voz engraçada.
Verde... E mais essa platéia se vai.
Amarelo...
Vermelho... Um flash é disparado do pardal mais próximo.

Acrobatas e cuspidores de fogo entram em cena fazendo um grande espetáculo, e parecem conseguir hipnotizar alguns motoristas que olham encantados aquela apresentação amadora executada por profissionais em um dos muitos semáforos de Brasília.
            Os acrobatas saltam de forma esplendorosa aproveitando bem o espaço e dividindo o palco com os cuspidores de fogo que estão logo atrás causando clarões naquela noite que se inicia.
            Um faz a coleta em quanto outros continuam o show que deve continuar, esse é o número mais apreciado pelos motoristas, que de tão impressionados se sentem na obrigação de contribuir, com os níqueis que em seus porta-moedas, carteiras e bolsas. De vez em quando se houve um marido dizer:
            -Amor? Você tem um real aí?
            Verde... E a platéia se move, para dar lugar a outra que irá se formar logo mais adiante.
Amarelo...
Vermelho... E a fila vai se formando, como cada vez mais carros com seus faróis acesos.

Monociclistas entram fazendo manobras e malabarismos com bolinhas, fazendo movimentos circulares e milimetricamente calculados para que não haja colisões entre si.
Além dos movimentos o que chama a atenção dos espectadores temporários é o tamanho de alguns dos monociclos, há dois enormes com mais de dois metros e um tão pequeno quanto à bicicleta de uma criança, e perto do fim os artistas equilibram os monociclos na boca através da cela.
E alguns motoristas buzinam como forma de aplaudir aqueles artistas de semáforo e asfalto, que rapidamente coletam o dinheiro que alguns motoristas entregam em meio a elogios.
Verde...
Amarelo...
Vermelho... E novamente entram os malabares do primeiro ato.
E o espetáculo segue de forma cíclica entre os carros que param esperando o Verde, e cada platéia que se forma presencia uma parte daquele grande espetáculo, que alguns não notam por estarem perdidos em seus pensamentos ou conversando no celular enquanto dirigem.
A verdade é que só os próprios artistas urbanos daquele Cirque du Soleil no sinal, presenciam a totalidade daquele espetáculo sem o glamour do verdadeiro Cirque du Soleil, mas com uma pitada do mesmo encanto que impressiona as pessoas que vão ao original.
E eles são a verdadeira platéia de si mesmos.
Verde...
Amarelo...
Vermelho...

Dom Juan Ricthelly. Gama-DF. Janeiro de 2013.
 

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