Costumo dizer que por trás de tudo há
filosofia, por mais que alguns de nós a renegue, ela está em nós. O homem é um
ser filosófico por excelência, cada ato e cada decisão que tomamos são
filosóficos em algum ponto, dá ideia que devemos punir nossos filhos quando
erram ao ‘sim’ ou ‘não’ respondidos sobre determinado assunto estamos
filosofando.
Portanto a produção cultural
exteriorizada através de filmes e séries não escapa a essa regra, por mais que
a questão filosófica não esteja explícita, se mirarmos com sensibilidade
veremos que ela vai estar lá. Considero como ótimos exemplos, a trilogia Matrix, o filme V de Vingança e a série Game
of Thrones, embora hajam muitos outros exemplos, que poderíamos mencionar.
Mas nos atenhamos a fazer essa
análise relacionando a série The Walking
Dead e a teoria do Contrato Social
defendida por filósofos como Thomas
Hobbes, John Locke e Jean Jaques Rousseau.
Rousseau |
Segundo a teoria do contrato social,
a vida em sociedade possui um caráter contratualista. O homem em sua origem
vivia em um estado natural, onde todos tinham direito a tudo, tendo como limite
ao seu desejo a sua força, prevalecendo à lei do mais forte, de modo que o
conflito era constante, por ocasionar o choque de interesses sobre a mesma
coisa, se A queria algo e B também, o mais forte teria direito a ela.
O homem era plenamente livre, e como
já dito o limite de sua liberdade era a sua força. Em um determinado momento se
percebeu que um grupo de indivíduos era mais forte do que um único indivíduo,
portanto, quanto maior o agregado de forças, maior seria a liberdade do grupo,
que assim poderiam se proteger mutuamente contra os inimigos externos e garantir
a satisfação de suas necessidades em conjunto.
Em razão da incerteza que havia sobre o seu
próprio destino, em meio a batalhas constantes uns com os outros, a humanidade
resolveu se socializar sob pena de extinguir-se caso continuasse a seguir o
mesmo rumo, e muitos benefícios surgiram dessa convenção.
E assim o homem abriu mão de uma liberdade natural ilimitada, por uma liberdade social que possuía como limite a liberdade de seu sócio contratante, saindo de um estágio natural de guerra, para um estágio social de convivência pacífica. Surgindo assim a figura do Estado como guardião desse contrato, devendo garantir a proteção de seus membros, havendo a necessidade de leis e punições contras as transgressões contratuais visando à manutenção e a preservação do contrato social.
E assim o homem abriu mão de uma liberdade natural ilimitada, por uma liberdade social que possuía como limite a liberdade de seu sócio contratante, saindo de um estágio natural de guerra, para um estágio social de convivência pacífica. Surgindo assim a figura do Estado como guardião desse contrato, devendo garantir a proteção de seus membros, havendo a necessidade de leis e punições contras as transgressões contratuais visando à manutenção e a preservação do contrato social.
No mundo de The Walking Dead,
ocorreu um apocalipse zumbi, que dizimou a maioria da população
transformando-os em seres desprovidos de inteligência, em putrefação, movidos
pela vontade instintiva de comer qualquer ser vivente. Os poucos que não
sucumbiram, vivem uma luta diária e constante pela sobrevivência buscando
recursos sobre os escombros do que restou, contra os zumbis e outros grupos de
sobreviventes.
Se olharmos sob a ótica da teoria do
contrato social, poderemos concluir que ele não existe mais, pelo simples fato
de boa parte de seus signatários terem se transformados em mortos vivos, o
Estado que antes era o guardião desse contrato deixou de existir, não
garantindo mais a proteção de seus integrantes e a possibilidade de manutenção
de suas necessidades sociais básicas.
Agora os poucos que restaram se unem
em pequenos grupos que ora ou outra se vêm em um conflito de interesses,
prevalecendo à vontade daquele que for o mais forte para impô-la aos demais, as
antigas leis que antes regiam a vida em sociedade não tem mais valor, por terem
perdido o caráter coativo que o Estado as revestia, e o que observamos
literalmente na prática, é máxima de Hobbes, “O homem é o lobo do homem”.
O estado de guerra foi restabelecido,
e agora além lutarem contra os zumbis, os grupos lutam entre si, buscando a
satisfação de suas necessidades, e o que se vê é um mini contrato social que se
aplica no âmbito do grupo, que faz as suas próprias leis, baseando-se em seus
valores morais adquiridos na vigência do contrato social anterior, mas até essa
mini convenção é relativa devido à instabilidade que pode se configurar dentro
do grupo dividindo-o ou dizimando o lado mais fraco.
A série é baseada na HQ (História em
Quadrinhos), e quem as acompanha vai conseguir vislumbrar nitidamente o que foi
dito até o momento, o conflito entre pessoas que não abrem mão de seus valores
e pessoas que vivem a frase “se está na selva, seja selvagem”. Estupro,
assassinato, tortura, roubo... São coisas comuns nesse mundo, onde a única
regra existente é a ausência de regras.
Sempre aberto a possibilidade de
estar enganado, vejo The Walking Dead, como uma reflexão sobre a sociedade em
que vivemos e as regras que somos coagidos através das leis e das convenções
sociais a seguir. Será que seguiríamos tais regras se não houvesse
obrigatoriedade de segui-las? As pessoas são boas independente da situação em
que vivam ou o são somente porque é socialmente correto?
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