E foram felizes para sempre...
Geralmente é assim que quase toda
grande história termina, pelo menos até a parte onde os contos de fadas e
comédias românticas demonstram. Não sabemos o que vem depois disso, ou na
verdade até sabemos, mas preferimos acreditar que eles realmente foram felizes
para sempre.
Então vamos à história de verdade!
Um celinho sem sal a tirou de um
sono profundo, que havia sido causado por uma meia mordida em uma maça
envenenada por sua madrasta, que a queria morta para ficar com a sua parte na
herança e não por ela ser mais bela como todo mundo acredita, porque na verdade
a madrasta era mais gostosa e melhor de cama que a virgem e BV Ana Snow White,
conhecida como Branca de Neve.
Depois daquele celinho e do ‘And
They Lived Happily Ever After’, Ana se casou com George Prince, sem ao menos o ter
namorado por algum tempo para ver se realmente gostava dele ou para conhecê-lo
melhor, afinal ela era uma princesa de um famosíssimo conto de fadas, seria
contra o protocolo tal atitude, os Sete Anões ainda tentaram alertá-la sobre
como os homens eram, mas ela não quis ouvi-los, porque afinal George era o
príncipe encantado que chegou em um lindo cavalo branco e a salvou da bruxa má.
O casamento foi lindo e cheio de
glamour, para ser mais exato foi a altura da Branca de Neve, se vocês quiserem uma
ideia aproximada da realidade digo a vocês que foi algo comparável ao casamento
de Kate e William da Inglaterra.
Todas as outras princesas e príncipes encantados
ou não encantados compareceram. Ariel e o Rei Tritão levaram lindas perolas
como presente, Jasmin acompanhada de Aladin e do seu pai O Sultão de Acraba
levou joias maravilhosas e belas tapeçarias, Fiona e Shrek presentearam o casal
com vários animais exóticos do longínquo Reino de Tão Tão Distante, a Bela da
Fera contribuiu com lingeries magníficas que fariam múmias levantarem de suas
tumbas, a Bela Adormecida apesar de seu problema de narcolepsia levou
utensílios domésticos primorosos, dentre convidados tão ilustres e tantos
outros que não mencionei, a única que não esteve presente foi Cinderela por
ainda ser a Gata Borralheira, apesar de a mesma ter implorado à Fada Madrinha
que arranja-se uma hora nos salões que estavam lotados, uma carruagem mesmo
estando todas alugadas e um convite de última hora, problemas que não
existiriam se já conhecesse o seu príncipe que havia sido convidado e tinha
direito a uma acompanhante.
A festa durou uma semana inteira regada
a muita cerveja e hidromel, comida não foi um problema, pois todos comeram e beberam
até ficarem extasiados. Houve princesas que se excederam e acabaram
participando de uma verdadeira orgia se entregando a cavalariços,
estalajadeiros e alguns soldados, os príncipes também não ficaram de fora, um
deles que não vou citar o nome, participou de um ménage à quatre com as irmãs de Cinderela que compareceram,
aconteceu um verdadeiro bacanal onde swings aconteciam com mais habitualidade
que a aurora e o crepúsculo.
Na noite de lua de mel George estava
muito bêbado e não conseguiu consumar o seu casamento com Ana que se sentiu
profundamente frustrada ao ouvir os gemidos de outros casais pelo castelo. A
consumação aconteceu no outro dia de manhã logo depois de George vomitar na
latrina do quarto e não foi nada do que Ana sempre esperou, com pétalas de
rosas vermelhas espalhadas pela cama, velas aromáticas, palavras de amor e
carinho e uma noite inteira em claro, ela queria ter feito amor e não
simplesmente sexo, George não durou três minutos e também não deu a devida
atenção as preliminares e a dor que Branca de Neve sentiu ao ter o seu hímen
bruscamente rompido.
Depois da festa todos foram para suas casas,
deixando um mar de garrafas e roupas intimas espalhadas pelo castelo, levando
consigo alguns bastardos no ventre e algumas doenças venéreas recém adquiridas.
E então o casamento de verdade começou, Ana estava esperançosa de que as coisas
melhorariam e de que o seu príncipe encantado se apresentaria como tal com o
tempo, vai ver ele estava nervoso com a nova vida de casado.
No primeiro beijo de língua em George, ela
achou o beijo ruim, só não sabia se o problema era o fato de nunca ter beijado alguém
antes ou se ele beijava mal mesmo. A questão é que George foi um marido
sexualmente ativo no primeiro ano de casamento, ela só achava estranho e
repetitivo o mesmo papai e mãe de
sempre sem nenhuma variação, mas como era uma moça inexperiente não reclamou.
No começo do segundo ano de casamento o
primeiro filho chegou, depois de algumas reclamações sobre a possível esterilidade
de Branca de Neve e os problemas conjugais continuaram.
George saia para caçar com outros
príncipes e chegava a passar meses longe do castelo e de Ana que só não se
sentia mais só por ter um filho para cuidar. No final de cinco anos eles tinham
três meninos e uma menina que haviam sido feitos em noites raras de desempenho
sexual insatisfatório.
Ana havia engordado alguns quilos, seus
seios haviam caído depois de muita amamentação, haviam surgido algumas varizes
e celulites, mas ainda possuía a sua beleza ímpar. Sua vida sexual havia se
reduzido a uma transa no escuro a cada seis meses quando George estava
suficientemente bêbado e disposto para tanto.
Ela havia conversado com outras
princesas para saber se as coisas eram realmente daquele jeito com todos ou se
o problema era só com ela, e ficou surpresa ao ver que os casamentos das outras
princesas com príncipes encantados não eram muito diferentes do seu, a
diferença era que uns traíam abertamente, outros agrediam suas esposas, outros
eram impotentes e outros eram um pouco de cada coisa somadas a mais uma porrada
de outras coisas. Uma das únicas exceções que conheceu foi solteira e libertina
princesa Merida, que era excelente arqueira e um dia havia comido no jantar uma
rã que havia falado com ela dizendo que era um príncipe encantado, que a faria
feliz para sempre se ela o beijasse. Ela ria toda vez que contava essa
história. As outras princesas eram proibidas por seus maridos a falarem com
Merida A Ruiva, por a considerarem uma má influência, mas Ana gostava de sua
companhia e de seu jeito despojado e espontâneo.
Havia boatos de que George a traia com
algumas camponesas e de que havia sido amante de sua madrasta, mas toda vez que
Ana tentava conversar a respeito George saia e passava meses fora caçando, uma
vez quase chegou ao ponto de agredi-la, sendo impedido pela criança que ela
amamentava na hora.
Num dia depois de conversar com Merida,
Ana resolveu segui-lo na próxima vez que ele voltasse de suas caçadas e
resolvesse caçar novamente.
-Você vai esperar mais ou menos dois
dias depois que ele chegar, e vai tocar nesses assuntos que o chateiam, então
ele vai resolver caçar e vai partir imediatamente, só que você já vai deixar
tudo pronto só para segui-lo, não se esqueça de chamar um dos Sete Anões para
te ajudar, pois eles conhecem a floresta melhor do que ninguém, eles saberão segui-lo.
Entendido Branca?
-Sim, Merida, muito obrigada pela sua
ajuda...
-Não há de quê Ana, você tem que largar
de ser besta. Já pensou e conhecer outro homem? Tem tantos caras comuns por aí
que dão de 10x0 nesses ‘príncipes encantados’, que de encantados não tem nada.
-Claro que não, que horror! Apesar de
tudo, trair George nunca me passou pela cabeça, eu o amo.
-Fico triste em ver a lendária Branca de
Neve numa situação tão deplorável. Mas um dia você acorda!
-É que eu só tive George na minha vida,
nunca beijei ou fiz qualquer coisa com outro que não ele...
-Há quanto tempo vocês não transam?
-Hum... Que pergunta intima!
-Responde! Deixa de ser besta! Isso
é algo normal.
-Uns oito meses.
-Meu Deus do Céu! Como você dá conta?
Puta que pariu! Oito meses??? Eu já o teria traído sem pensar duas vezes.
-O casamento é assim mesmo.
-Não vou falar mais nada, vamos
fazer como combinamos e depois vemos o que fazer.
Como o combinado George voltou
depois de três semanas de mais uma caçada e Ana foi abordá-lo sobre as mesmas
questões que o irritavam, como o previsto ele foi para outro quarto e saiu de
manhã cedo sem dizer adeus. Ana montou o seu cavalo selado e partiu com Zangado
ao seu lado, que por cautela resolveu dar um tempo de distância para não serem
descobertos por George.
Cavalgaram mais ou menos três horas até
a floresta West Wood sem dificuldade, pois Zangado a conhecia como o gorro em
sua cabeça. Chegando a floresta começou o trabalho de rastreamento que os levou
próximo a um riacho, onde havia uma única barraca e dois cavalos grandes e
bonitos pastando, sendo um deles o de George.
Eles se aproximaram vagarosamente
sem fazer ruídos ficando atrás dos arbustos observando a uma distância que dava
para ver e ouvir nitidamente. Eles viram o que parecia ser outro homem dizer.
-Achei que você ia demorar mais
dessa vez...
-Eu até ia, mas Ana começou a encher
o saco e resolvi voltar imediatamente.
-Eu já estava até arrumando as
coisas para voltar, afinal também tenho uma esposa, tem um tempão que não vejo
Rapunzel e ela está esperando um filho.
-Pensei que você ia ficar feliz em
passar mais um tempo comigo.
-É claro que eu adoraria, mas não é
isso, você sabe...
-Sei o quê?
George foi se aproximando do outro
homem que o observava atentamente e Ana não pode acreditar no que via, os dois
estavam se beijando carinhosamente de um jeito que George nunca havia a
beijado, ela entrou em desespero, era como se o seu mundo estivesse desabando,
ela queria bastante que aquilo fosse um pesadelo ou uma piada de mau gosto,
Zangado não conseguiu esconder a sua indignação e ficou muito zangado com
aquilo, até que Ana saiu bruscamente dos arbustos gritando histérica.
-Que porra é essa? George?
A primeira reação de George foi de
completo espanto.
-Fodeu! – respondeu o outro homem.
-Então era isso o que fazia toda vez que
vinha caçar? Era isso o que você caçou todos esses anos?
-Calma Ana eu posso explicar...
-Você não pode explicar porra
nenhuma, porque essa merda não tem explicação. Príncipe encantado que nada,
você não passa de um homossexual, ruim de cama que vive de aparência. Faça o
favor de não voltar nunca mais naquele castelo.
-Espere me desculpe!
-Maldito Walt Disney!
Ela deus as costas e saiu com
Zangado que apesar de muito zangado assistiu aquilo calado, mas dizendo entre
os dentes.
-Quem diria hein...
E eles não foram felizes para sempre...
Dom
Juan Ricthelly. Gama-DF, Janeiro de 2013.
Sensacional! Uma dura crítica a realidade, sem deixar de ser original e de nos despertar o senso crítico.
ResponderExcluirEzequiel Honorato