Verde...
Amarelo...
Vermelho...
Senhoras e
senhores e o maior espetáculo da cidade vai começar!
Os habilidosos
malabares do asfalto entram em cena, com uma maestria que capta a atenção dos
motoristas que esperam o Verde, por alguns segundos, boa parte deles esquece o
quão apressados estão para chegar a seus destinos ou o quanto estão estressados
com aquele transito caótico da hora do Rush.
E os
malabaristas continuam fazendo movimentos rápidos e precisos, cada segundo é
valioso, e eles têm cronometrados em suas mentes o tempo exato que devem dedicar
a sua arte e a captação de moedas.
Faltando poucos
segundos eles passam entre os carros, recebendo elogios, sorrisos, vidros
fechados, moedas e as raras cédulas de dois.
Ação que é
respondida com:
-Gracias!
-Obrigado! – com um sotaque carregado de
espanhol.
Verde... E a
platéia segue.
Amarelo...
Algumas aceleradas (esses perderão o próximo ato), outras freadas bruscas
(esses estarão na primeira fileira).
Vermelho... E
a platéia está formada.
Agora é a vez
dos palhaços, que fazem algumas idiotices, arrancando risos de algumas crianças
nos carros que riem como se tivessem presenciado a coisa mais engraçada do
mundo.
Logo em
seguida passam entre os carros vendendo pirulitos, balas e outros doces
contando com o apoio dos pequenos que dizem daquele jeito que só eles sabem:
-Ah mãe eu quero!
Conseguem
algumas moedas ao que respondem ‘obrigado’ com uma voz engraçada.
Verde... E
mais essa platéia se vai.
Amarelo...
Vermelho... Um
flash é disparado do pardal mais próximo.
Acrobatas e
cuspidores de fogo entram em cena fazendo um grande espetáculo, e parecem
conseguir hipnotizar alguns motoristas que olham encantados aquela apresentação
amadora executada por profissionais em um dos muitos semáforos de Brasília.
Os
acrobatas saltam de forma esplendorosa aproveitando bem o espaço e dividindo o
palco com os cuspidores de fogo que estão logo atrás causando clarões naquela
noite que se inicia.
Um
faz a coleta em quanto outros continuam o show que deve continuar, esse é o número
mais apreciado pelos motoristas, que de tão impressionados se sentem na obrigação
de contribuir, com os níqueis que em seus porta-moedas, carteiras e bolsas. De
vez em quando se houve um marido dizer:
-Amor? Você tem um real aí?
Verde...
E a platéia se move, para dar lugar a outra que irá se formar logo mais
adiante.
Amarelo...
Vermelho... E
a fila vai se formando, como cada vez mais carros com seus faróis acesos.
Monociclistas
entram fazendo manobras e malabarismos com bolinhas, fazendo movimentos circulares
e milimetricamente calculados para que não haja colisões entre si.
Além dos
movimentos o que chama a atenção dos espectadores temporários é o tamanho de
alguns dos monociclos, há dois enormes com mais de dois metros e um tão pequeno
quanto à bicicleta de uma criança, e perto do fim os artistas equilibram os
monociclos na boca através da cela.
E alguns
motoristas buzinam como forma de aplaudir aqueles artistas de semáforo e
asfalto, que rapidamente coletam o dinheiro que alguns motoristas entregam em
meio a elogios.
Verde...
Amarelo...
Vermelho... E
novamente entram os malabares do primeiro ato.
E o espetáculo
segue de forma cíclica entre os carros que param esperando o Verde, e cada platéia
que se forma presencia uma parte daquele grande espetáculo, que alguns não
notam por estarem perdidos em seus pensamentos ou conversando no celular
enquanto dirigem.
A verdade é
que só os próprios artistas urbanos daquele Cirque du Soleil no sinal,
presenciam a totalidade daquele espetáculo sem o glamour do verdadeiro Cirque du
Soleil, mas com uma pitada do mesmo encanto que impressiona as pessoas que vão
ao original.
E eles são a
verdadeira platéia de si mesmos.
Verde...
Amarelo...
Vermelho...
Dom Juan Ricthelly. Gama-DF. Janeiro de 2013.
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