23 janeiro 2013
22 janeiro 2013
Pensamentos...
O homem olha todas as coisas do mundo em seus
mínimos detalhes, chegando até mesmo a partículas mínimas indivisíveis, olha o
universo em sua dimensão imensurável especulando as distâncias em anos-luz, lê
livros e mais livros procurando respostas para suas perguntas, procura ajuda
profissional e religiosa, mas em momento algum olha para o universo a parte que
existe dentro de si, não parando para pensar que algumas respostas, talvez as
mais importantes não estão há um ano luz da Terra, mas simplesmente em algum
lugar dentro dele mesmo.
Dom Juan Ricthelly.
Pão e Circo
Vamos tomar nossos lugares, em frente as Tv´s
Nas arquibancadas de estádios e perante a vida
Vamos assistir a tudo calados e sem reclamar
Porque afinal o pão nunca esteve tão barato
E o programação de sempre continua indo ao ar
Vamos continuar indo as nossas escolas
Sendo adestrados para que jamais ousemos pensar
Vamos continuar indo aos nossos hospitais
Para sermos abatidos e fatiados como gado
Vamos ser bons cidadãos como exige o Estado
Acordar cedo, trabalhar e pagar os impostos
Pagar uma fortuna em juros e adquirir produtos importados
Isso mesmo pessoal, vamos assistir a tudo isso calados.
Vamos sediar a Copa do Mundo FIFA e depois as Olimpíadas
E vamos numa boa abrir mãos de nossas leis e de nossa
soberania
Vamos construir estádios caros e superfaturados
E deixemos de lado as estradas, a saúde, a educação e a
segurança
Simplesmente paguemos tudo, enquanto eles montam suas
poupanças.
Relaxem pessoal, está tudo bem, sente-se aí
Vamos aceitar o pão que nos foi dado
Com o nosso próprio dinheiro declarado
Vamos sentar no picadeiro do Estado
E rir no circo de muito bom grado
Pois pão e circo é tudo o que mais precisamos.
'Psiu! Está atrapalhando a programação. Calado!'
'Psiu! Está atrapalhando a programação. Calado!'
Dom Juan Ricthelly. Gama-DF. Janeiro de 2013.
Cirque du Soleil no Sinal.
Verde...
Amarelo...
Vermelho...
Senhoras e
senhores e o maior espetáculo da cidade vai começar!
Os habilidosos
malabares do asfalto entram em cena, com uma maestria que capta a atenção dos
motoristas que esperam o Verde, por alguns segundos, boa parte deles esquece o
quão apressados estão para chegar a seus destinos ou o quanto estão estressados
com aquele transito caótico da hora do Rush.
E os
malabaristas continuam fazendo movimentos rápidos e precisos, cada segundo é
valioso, e eles têm cronometrados em suas mentes o tempo exato que devem dedicar
a sua arte e a captação de moedas.
Faltando poucos
segundos eles passam entre os carros, recebendo elogios, sorrisos, vidros
fechados, moedas e as raras cédulas de dois.
Ação que é
respondida com:
-Gracias!
-Obrigado! – com um sotaque carregado de
espanhol.
Verde... E a
platéia segue.
Amarelo...
Algumas aceleradas (esses perderão o próximo ato), outras freadas bruscas
(esses estarão na primeira fileira).
Vermelho... E
a platéia está formada.
Agora é a vez
dos palhaços, que fazem algumas idiotices, arrancando risos de algumas crianças
nos carros que riem como se tivessem presenciado a coisa mais engraçada do
mundo.
Logo em
seguida passam entre os carros vendendo pirulitos, balas e outros doces
contando com o apoio dos pequenos que dizem daquele jeito que só eles sabem:
-Ah mãe eu quero!
Conseguem
algumas moedas ao que respondem ‘obrigado’ com uma voz engraçada.
Verde... E
mais essa platéia se vai.
Amarelo...
Vermelho... Um
flash é disparado do pardal mais próximo.
Acrobatas e
cuspidores de fogo entram em cena fazendo um grande espetáculo, e parecem
conseguir hipnotizar alguns motoristas que olham encantados aquela apresentação
amadora executada por profissionais em um dos muitos semáforos de Brasília.
Os
acrobatas saltam de forma esplendorosa aproveitando bem o espaço e dividindo o
palco com os cuspidores de fogo que estão logo atrás causando clarões naquela
noite que se inicia.
Um
faz a coleta em quanto outros continuam o show que deve continuar, esse é o número
mais apreciado pelos motoristas, que de tão impressionados se sentem na obrigação
de contribuir, com os níqueis que em seus porta-moedas, carteiras e bolsas. De
vez em quando se houve um marido dizer:
-Amor? Você tem um real aí?
Verde...
E a platéia se move, para dar lugar a outra que irá se formar logo mais
adiante.
Amarelo...
Vermelho... E
a fila vai se formando, como cada vez mais carros com seus faróis acesos.
Monociclistas
entram fazendo manobras e malabarismos com bolinhas, fazendo movimentos circulares
e milimetricamente calculados para que não haja colisões entre si.
Além dos
movimentos o que chama a atenção dos espectadores temporários é o tamanho de
alguns dos monociclos, há dois enormes com mais de dois metros e um tão pequeno
quanto à bicicleta de uma criança, e perto do fim os artistas equilibram os
monociclos na boca através da cela.
E alguns
motoristas buzinam como forma de aplaudir aqueles artistas de semáforo e
asfalto, que rapidamente coletam o dinheiro que alguns motoristas entregam em
meio a elogios.
Verde...
Amarelo...
Vermelho... E
novamente entram os malabares do primeiro ato.
E o espetáculo
segue de forma cíclica entre os carros que param esperando o Verde, e cada platéia
que se forma presencia uma parte daquele grande espetáculo, que alguns não
notam por estarem perdidos em seus pensamentos ou conversando no celular
enquanto dirigem.
A verdade é
que só os próprios artistas urbanos daquele Cirque du Soleil no sinal,
presenciam a totalidade daquele espetáculo sem o glamour do verdadeiro Cirque du
Soleil, mas com uma pitada do mesmo encanto que impressiona as pessoas que vão
ao original.
E eles são a
verdadeira platéia de si mesmos.
Verde...
Amarelo...
Vermelho...
Dom Juan Ricthelly. Gama-DF. Janeiro de 2013.
Não Confie em quem não bebe.
“Filho,
jamais confie em um homem que não bebe, pois ele é um tipo hipócrita, um homem que acha que distingue o
certo do errado o tempo todo. Alguns deles são bons homens, mas em nome da
bondade eles tendem a causar a maioria do sofrimento do mundo. São os que
julgam, os intrometidos. E, filho, nunca confie em um homem que bebe mas se
recusa a ficar bêbado. Geralmente eles têm medo de algo muito profundo no seu
âmago, sejam eles covardes e tolos ou cruéis e violentos. Você não pode confiar
em um homem que tem medo de si próprio. Certas vezes, filho, você pode confiar
no homem que, ocasionalmente, ajoelhar-se frente a um vaso sanitário. Com
sorte, ele está aprendendo algo sobre humildade e sua própria e tola natureza
humana, aprendendo a sobreviver a si mesmo. É muito, muito difícil um homem se
levar tão a sério quando está deixando suas entranhas em um banheiro imundo.”
~James Arthur
Crumlye (12 de outubro de 1939 – 17 de setembro de 2008)
The Wrong Case
(1975)
17 janeiro 2013
In nomine Patris, et Filiis, et Spiritus Sancti.
Levava aquela
vida há 35 anos, resolveu ser padre aos 18 depois de uma desilusão amorosa
daquelas que fazem qualquer um perder o rumo. Cristina era o amor de sua vida,
era linda, inteligente e agradável, ele acreditava que seriam felizes para
sempre e fazia planos a curto, médio e longo prazo para os dois.
João era um
rapaz de traços físicos não tão marcantes, mas sabia ser simpático e
comunicativo como poucos, conheceu Cristinha ou Cris como ele costumava chamá-la
em uma missa dominical em que estava servindo como coroinha, lá do altar ele notou
aquela bela moça que prontamente o notou de forma recíproca.
Começaram a
conversar antes do inicio da missa, ambos chegavam meia hora mais cedo para
papear sobre qualquer coisa que rendesse uma boa conversa, depois ficavam
dialogando após a celebração, e em pouco tempo se viam todos os dias e em menos
de um mês estavam namorando.
Depois de oito
meses de namoro e mergulhados em meio aos hormônios da juventude que os
impulsionavam a amassos cada vez mais calorosos, Cristina decidiu que queria
fazer sexo, no começo ele adorou a idéia, mas quando os ensinamentos religiosos
que recebeu por toda a sua vida se sobrepuseram ao seu desejo, ele resolveu que
deveriam esperar o casamento, pois aquilo era um pecado terrível, punível com o
fogo eterno.
Cristina
tentou dialogar dizendo que poderiam se casar depois e que não haveria
problema, mas João insistia que aquilo não era correto e que não adiantava
burlar as leis divinas. Até que um dia enquanto se pegavam no carro, ela se
estressou com aquela postura de seu namorado e resolveu romper com ele de uma
vez por todas.
Ele ficou
muito mal com tudo aquilo, estava dividido entre a lascívia e o castigo divino
que seria sua conseqüência, durante as missas sentia o seu coração dilacerando
quando olhava para Cristina. Até que resolveu se aconselhar com Padre Euclides,
que era muito seu amigo, e então se decidiu por levar uma vida religiosa longe
de Cristina e de tudo o que a lembrava, foi embora em segredo e só algum tempo
depois as pessoas perceberam que ele havia sumido das missas e reuniões
religiosas da comunidade Nossa Senhora da Paz.
No começo foi
difícil e ele passava horas rezando de joelhos e lendo a Bíblia Sagrada, com o
intuito incessante de esquecer aquela mulher que o havia marcado a ferro e fogo,
com o seu jeito encantador e o seu perfume que conseguia sentir ao fechar os
olhos e lembrar-se dela como se estivesse ali ao seu lado.
Mas em meio
aos estudos encontrou uma espécie de balsamo para a sua paixão, e eis que outro
problema surgiu depois daquele, e agora exatamente 35 anos depois ele sofria com
esse novo problema.
João conhecia
a Bíblia profundamente, não sabia quantas vezes a havia lido, mas sua crise mesmo
começou quando iniciou os estudos sobre História Geral, Filosofia, Ciências
Naturais, Exatas além de Teologia e outras matérias durante o tempo que se
preparava para ser Padre.
Mas aquela
introdução foi apenas um mal estar passageiro comparado com o que estava por
vir, que só se manifestou plenamente depois de muitos anos de vida sacerdotal.
Mesmo depois
de ordenado, não havia parado com os estudos, o conhecimento havia se tornado a
paixão de sua vida. O primeiro embate em que se viu compelido a analisar foi à
questão do evolucionismo de Charles Darwin e o criacionismo da Bíblia, no
começo ele tentava de todas as formas justificar o que estava no ‘livro sagrado’,
dizendo que Deus podia tudo e que aquilo era algo absolutamente plausível pois
O Criador era onipotente, mas quanto mais ele comparava as teorias mais se via
compelido a dar primazia ao evolucionismo.
Seus estudos
continuavam de forma ininterrupta, e quanto mais estudava mais se sentia
angustiado com o rumo que sua razão o levava a crer. Estudou as outras religiões
em segredo, leu o livro de São Cipriano da Capa Preta, grandes filósofos como
Rousseau, Montesquieu, Sartre, Kant, Nietzsche e muitos outros, chegou ao ponto
de ler o Alcorão, em busca de uma verdade que alimentasse de uma vez por todas
a sua racionalidade pulsante. Passou anos e anos de sua vida passeando entre
todas as áreas do conhecimento ao seu alcance, enquanto seguia com a sua vida
de padre em uma comunidade semelhante a que costumava freqüentar em sua
juventude.
E quanto mais
lia, mais agoniado ficava por não ter com quem compartilhar as suas crenças
pessoais, que haviam se tornado tão distantes do que pregava em suas missas. João
não acreditava mais na Bíblia, e mesmo assim tinha que lê-la em todas as
celebrações e doutrinar os seus fiéis de acordo com o que estava nela.
Havia estudado
a história da Igreja Católica Apostólica Romana e no seu intimo a abominava por
todo o mal que ela havia praticado na Idade Média, nas Cruzadas e através do
Tribunal da Santa Inquisição. As coisas foram acontecendo de forma gradativa ao
ponto de não mais acreditar em Santos, na Santíssima Trindade, em Jesus como
Salvador do Mundo e por um último em Deus, mas mesmo assim tinha que se
ajoelhar perante aquelas imagens e conduzir os rituais religiosos em
conformidade a tudo àquilo que abominava, mas reprimia.
Ele mesmo se
considerava uma abominação, pois havia se tornado um Padre ateu, e aquilo o
torturava de forma profunda. Ele podia muito bem abrir mão de tudo aquilo e
seguir uma vida fora da Igreja como uma pessoa comum, mas como dizia Oscar
Niemeyer ‘estava velho demais para mudar’, embora já estivesse completamente
mudado.
João tinha 53
anos, possuía um conhecimento semelhante ou até maior ao de um Mestre, havia dedicado a sua vida inteira aquela
vida, seus pais estavam mortos, seus irmãos casados e com netos, e o mercado de
trabalho não era receptivo a pessoas com a sua idade e falta de experiência.
Toda noite
sentia o coração pesado ao olhar para trás e se arrependia profundamente por não
ter ficado com Cristina, ter levado uma vida comum, ter tido alguns filhos e
agora estar curtindo os netos em sua velhice. Mas não tinha mais para onde ir,
não havia outro caminho a seguir a não ser o da morte que talvez demorasse anos,
ele queria muito saber o que vinha depois, qual era o sentido desse mundo e da
vida. Não se conformava em simplesmente acreditar por acreditar, pois queria e
necessitava em saber o porquê das coisas.
Pensou e
relembrou boa parte dessas coisas enquanto estava sentando ao lado do Arcebispo
que estava visitando sua igreja naquele domingo de manhã, que o chamou dizendo:
-Então Comunidade de Santo Agostinho,
convido o já conhecido e querido de vocês Padre João para encerrar essa Santa
Missa.
João se
levantou, rezou um pai nosso, deu alguns avisos, agradeceu a presença do
Arcebispo, elogiou o seu trabalho e abençoou os fieis dizendo:
-Vão em paz e que o senhor os acompanhe!
-Amém!
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Anos depois em seu leito de morte João
confessou tudo isso ao padre que foi dar-lhe a Extrema-Unção, que ficou chocado
com tudo o que ouviu, então ele disse:
-Você se arrepende de todos os pecados que
me contou?
-Não! Arrependo-me de ter escolhido levar
essa vida.
-Não posso perdoá-lo se não estiver
arrependido dos pecados que cometeu. Escolher ser padre não é um pecado, ser
ateu sim.
-Não quero o seu perdão meu caro, pois com
todo o respeito não acredito em nada disso, só estou contando para alguém tudo
o que guardei comigo todos esses anos e te agradeço de coração por ter me
ouvido. E se você algum dia quiser contar isso para qualquer pessoa, sinta-se
livre para isso.
-Que Deus tenha misericórdia de sua alma irmão.
E depois de
ouvir isso ele deu um último sorriso com os lábios, respirou profundamente e
foi fechando os olhos lentamente enquanto sentia o seu coração parar.
-Ego tibi ignosco in nomine Patris, et Filii, et Spitus Sancti! Requiescat
in pace! Amen.¹
Juan
Ricthelly. Gama-DF, Janeiro de 2013.
1(latim): “Eu
te perdôo em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo! Descanse em paz! Amém!”
Discurso de Pepe Mujica (Presidente do Uruguai) Rio+20.
Autoridades presentes, de todas as
latitudes e organizações, muito obrigado. E muito obrigado, nosso agradecimento
ao povo do Brasil e à sua senhora presidente. E muito obrigado à boa-fé que,
seguramente, manifestaram todos os oradores que me precederam.
Expressamos a íntima vontade, como
governantes, de acompanhar todos os acordos que esta nossa pobre humanidade
possa subscrever. No entanto, seja-nos permitido fazer algumas perguntas em voz
alta. Durante toda a tarde esteve-se falando em desenvolvimento sustentável, de
tirar imensas massas da pobreza. O que nos passa pela cabeça? O modelo de
desenvolvimento do consumo é o atual das sociedades ricas. Eu gostaria de
perguntar o que aconteceria a este planeta se os indianos tivessem a mesma
proporção de carros por família têm os alemães? Quanto oxigênio nos restaria
para podermos respirar?
Mais claro: o mundo tem, hoje, os
elementos materiais para fazer possível que sete, oito bilhões de pessoas
possam ter o mesmo nível de consumo e desperdício das mais opulentas sociedades
ocidentais? Será possível ? Ou teremos que nos dar, algum dia, outro tipo de
discussão? Porque criou-se uma civilização, na que estamos, filha do mercado,
filha da competição, que se deparou com um progresso material portentoso e
explosivo. Mas o que foi economia de mercado criou a sociedade de mercado. E se
apresentou esta "globalização" que significa olhar por todo o
planeta. Estamos governando a globalização ou a globalização nos governa? É possível
falar de solidariedade e de que estamos todos juntos numa economia que está
baseada na competição desapiedada? Até onde chega a nossa fraternidade?
Nada disso digo para negar a importância
desse evento. Não, pelo contrário, o desafio que temos pela frente é de uma
magnitude e de um caráter colossal e a grande crise não é psicológica, é
política. O homem não governa, hoje. A força que se liberou, ou a força que
liberaram governa o homem... e à vida. Porque não viemos ao planeta para nos
desenvolvermos em termos gerais. Viemos à vida tentando ser felizes. Porque a
vida é curta e nos acaba. Nenhum bem vale como a vida e isto é elementar. Mas
se a vida me vai escapar trabalhando e trabalhando para consumir o máximo e a
sociedade de consumo é o motor, porque se definitivamente se paralisa o consumo
ou se detém, se detém a economia, e se se detém a economia é o fantasma da
estagnação para cada um de nós. Mas esse hiper-consumo, a juízo, é o que está
agredindo o planeta e esse hiper-consumo tem que gerar coisas que durem pouco,
porque é preciso vender muito. Uma lâmpada elétrica não pode durar mais de mil
horas acesa. Há lâmpadas que podem durar cem mil, duzentas mil horas, mas essas
não se pode fazer. Porque o problema é o mercado. Porque temos que trabalhar.
Temos que estar numa sociedade de uso e descarte, estamos num círculo vicioso.
Estes são problemas de caráter político que estão nos dizendo da necessidade de
lutar por outra cultura.
Não se trata de propor voltar aos homens
das cavernas, nem fazer um monumento ao atraso. É que não podemos,
indefinidamente, continuar governados pelo mercado mas, sim, temos que governar
o mercado. Por isso digo que o problema é de caráter político.
Na minha humilde maneira de pensar -
porque, como os velhos pensadores definiam, Epicuro, Sêneca, ..., - pobre não é
o que tem pouco, mas o verdadeiramente pobre é o que necessita infinitamente
muito e deseja e deseja e deseja mais e mais. Esta é uma chave de caráter
cultural. Então, vou saudar o esforço e lhes recordo que é assim.
Vou
acompanhar, como governante, porque sei que alguma coisa das que digo se retêm.
Mas temos que nos dar conta que a crise da água, que a crise do meio ambiente
não são uma causa. A causa é o modelo de civilização que construímos e o que
temos que rever é a nossa forma de viver. Por quê? Pois temos um país pequeno,
muito bem dotado de recursos naturais para viver. Em meu país há três milhões
de habitantes, pouco mais,
três
milhões e duzentos, mas há treze milhões de vacas, das melhores do mundo, e uns
oito a dez milhões de ovelhas, estupendas. Meu país é exportador de comida, de
arte ou de carne. É uma enorme planície, quase noventa por cento do seu
território é aproveitável. Meus companheiros trabalhadores lutaram muito pelas
oito horas de trabalho. Agora estão conseguindo seis horas. Mas aquele que
consegue as seis horas, consegue outro trabalho, portanto trabalha mais que
antes. Por quê? Porque tem que pagar uma quantidade de mensalidades, a
motocicleta que comprou, o carrinho que comprou, e paga prestação e paga
prestação e quando se dá conta, é um velho reumático como eu e se lhe foi a
vida. E se faz essa pergunta: esse é o destino da vida humana?
Estas
coisas são muito elementares. O desenvolvimento não pode ser contra a
felicidade, tem que ser a favor da felicidade humana, do amor sobre a terra,
nas relações humanas, no cuidar dos filhos, em ter amigos, em ter o mínimo
necessário. Precisamente, porque esse é o tesouro mais importante que existe.
Quando lutamos pelo meio ambiente, o primeiro elemento do meio ambiente se
chama felicidade humana. Obrigado.
José
Mujica, el Pepe.
11 janeiro 2013
Só sei que nada sei
Só sei que nada sei, mas sei que te amo
Nada sei sobre latim ou do tamanho do oceano
Nada sei sobre física ou do DNA humano
Mas sei o dia, a hora e o ano.
Só sei que nada sei, só sei que te amo
Só sei o que sinto e precinto
Só sei o que minto e não brindo
E só eu sei que o amor é o meu recanto
Só sei que nada sei e nada serei só
Só sei que nada é a sua falta
Que sinto quando estou só
Só sei que nada sei sobre amar, mas te amo
Nada sei sobre cantar, mas eu canto
Nada sei sobre o quanto, quando meu amor é tanto.
Dom Juan Ricthelly. Gama-DF, Janeiro de 2013.
03 janeiro 2013
Felizes para sempre?
E foram felizes para sempre...
Geralmente é assim que quase toda
grande história termina, pelo menos até a parte onde os contos de fadas e
comédias românticas demonstram. Não sabemos o que vem depois disso, ou na
verdade até sabemos, mas preferimos acreditar que eles realmente foram felizes
para sempre.
Então vamos à história de verdade!
Um celinho sem sal a tirou de um
sono profundo, que havia sido causado por uma meia mordida em uma maça
envenenada por sua madrasta, que a queria morta para ficar com a sua parte na
herança e não por ela ser mais bela como todo mundo acredita, porque na verdade
a madrasta era mais gostosa e melhor de cama que a virgem e BV Ana Snow White,
conhecida como Branca de Neve.
Depois daquele celinho e do ‘And
They Lived Happily Ever After’, Ana se casou com George Prince, sem ao menos o ter
namorado por algum tempo para ver se realmente gostava dele ou para conhecê-lo
melhor, afinal ela era uma princesa de um famosíssimo conto de fadas, seria
contra o protocolo tal atitude, os Sete Anões ainda tentaram alertá-la sobre
como os homens eram, mas ela não quis ouvi-los, porque afinal George era o
príncipe encantado que chegou em um lindo cavalo branco e a salvou da bruxa má.
O casamento foi lindo e cheio de
glamour, para ser mais exato foi a altura da Branca de Neve, se vocês quiserem uma
ideia aproximada da realidade digo a vocês que foi algo comparável ao casamento
de Kate e William da Inglaterra.
Todas as outras princesas e príncipes encantados
ou não encantados compareceram. Ariel e o Rei Tritão levaram lindas perolas
como presente, Jasmin acompanhada de Aladin e do seu pai O Sultão de Acraba
levou joias maravilhosas e belas tapeçarias, Fiona e Shrek presentearam o casal
com vários animais exóticos do longínquo Reino de Tão Tão Distante, a Bela da
Fera contribuiu com lingeries magníficas que fariam múmias levantarem de suas
tumbas, a Bela Adormecida apesar de seu problema de narcolepsia levou
utensílios domésticos primorosos, dentre convidados tão ilustres e tantos
outros que não mencionei, a única que não esteve presente foi Cinderela por
ainda ser a Gata Borralheira, apesar de a mesma ter implorado à Fada Madrinha
que arranja-se uma hora nos salões que estavam lotados, uma carruagem mesmo
estando todas alugadas e um convite de última hora, problemas que não
existiriam se já conhecesse o seu príncipe que havia sido convidado e tinha
direito a uma acompanhante.
A festa durou uma semana inteira regada
a muita cerveja e hidromel, comida não foi um problema, pois todos comeram e beberam
até ficarem extasiados. Houve princesas que se excederam e acabaram
participando de uma verdadeira orgia se entregando a cavalariços,
estalajadeiros e alguns soldados, os príncipes também não ficaram de fora, um
deles que não vou citar o nome, participou de um ménage à quatre com as irmãs de Cinderela que compareceram,
aconteceu um verdadeiro bacanal onde swings aconteciam com mais habitualidade
que a aurora e o crepúsculo.
Na noite de lua de mel George estava
muito bêbado e não conseguiu consumar o seu casamento com Ana que se sentiu
profundamente frustrada ao ouvir os gemidos de outros casais pelo castelo. A
consumação aconteceu no outro dia de manhã logo depois de George vomitar na
latrina do quarto e não foi nada do que Ana sempre esperou, com pétalas de
rosas vermelhas espalhadas pela cama, velas aromáticas, palavras de amor e
carinho e uma noite inteira em claro, ela queria ter feito amor e não
simplesmente sexo, George não durou três minutos e também não deu a devida
atenção as preliminares e a dor que Branca de Neve sentiu ao ter o seu hímen
bruscamente rompido.
Depois da festa todos foram para suas casas,
deixando um mar de garrafas e roupas intimas espalhadas pelo castelo, levando
consigo alguns bastardos no ventre e algumas doenças venéreas recém adquiridas.
E então o casamento de verdade começou, Ana estava esperançosa de que as coisas
melhorariam e de que o seu príncipe encantado se apresentaria como tal com o
tempo, vai ver ele estava nervoso com a nova vida de casado.
No primeiro beijo de língua em George, ela
achou o beijo ruim, só não sabia se o problema era o fato de nunca ter beijado alguém
antes ou se ele beijava mal mesmo. A questão é que George foi um marido
sexualmente ativo no primeiro ano de casamento, ela só achava estranho e
repetitivo o mesmo papai e mãe de
sempre sem nenhuma variação, mas como era uma moça inexperiente não reclamou.
No começo do segundo ano de casamento o
primeiro filho chegou, depois de algumas reclamações sobre a possível esterilidade
de Branca de Neve e os problemas conjugais continuaram.
George saia para caçar com outros
príncipes e chegava a passar meses longe do castelo e de Ana que só não se
sentia mais só por ter um filho para cuidar. No final de cinco anos eles tinham
três meninos e uma menina que haviam sido feitos em noites raras de desempenho
sexual insatisfatório.
Ana havia engordado alguns quilos, seus
seios haviam caído depois de muita amamentação, haviam surgido algumas varizes
e celulites, mas ainda possuía a sua beleza ímpar. Sua vida sexual havia se
reduzido a uma transa no escuro a cada seis meses quando George estava
suficientemente bêbado e disposto para tanto.
Ela havia conversado com outras
princesas para saber se as coisas eram realmente daquele jeito com todos ou se
o problema era só com ela, e ficou surpresa ao ver que os casamentos das outras
princesas com príncipes encantados não eram muito diferentes do seu, a
diferença era que uns traíam abertamente, outros agrediam suas esposas, outros
eram impotentes e outros eram um pouco de cada coisa somadas a mais uma porrada
de outras coisas. Uma das únicas exceções que conheceu foi solteira e libertina
princesa Merida, que era excelente arqueira e um dia havia comido no jantar uma
rã que havia falado com ela dizendo que era um príncipe encantado, que a faria
feliz para sempre se ela o beijasse. Ela ria toda vez que contava essa
história. As outras princesas eram proibidas por seus maridos a falarem com
Merida A Ruiva, por a considerarem uma má influência, mas Ana gostava de sua
companhia e de seu jeito despojado e espontâneo.
Havia boatos de que George a traia com
algumas camponesas e de que havia sido amante de sua madrasta, mas toda vez que
Ana tentava conversar a respeito George saia e passava meses fora caçando, uma
vez quase chegou ao ponto de agredi-la, sendo impedido pela criança que ela
amamentava na hora.
Num dia depois de conversar com Merida,
Ana resolveu segui-lo na próxima vez que ele voltasse de suas caçadas e
resolvesse caçar novamente.
-Você vai esperar mais ou menos dois
dias depois que ele chegar, e vai tocar nesses assuntos que o chateiam, então
ele vai resolver caçar e vai partir imediatamente, só que você já vai deixar
tudo pronto só para segui-lo, não se esqueça de chamar um dos Sete Anões para
te ajudar, pois eles conhecem a floresta melhor do que ninguém, eles saberão segui-lo.
Entendido Branca?
-Sim, Merida, muito obrigada pela sua
ajuda...
-Não há de quê Ana, você tem que largar
de ser besta. Já pensou e conhecer outro homem? Tem tantos caras comuns por aí
que dão de 10x0 nesses ‘príncipes encantados’, que de encantados não tem nada.
-Claro que não, que horror! Apesar de
tudo, trair George nunca me passou pela cabeça, eu o amo.
-Fico triste em ver a lendária Branca de
Neve numa situação tão deplorável. Mas um dia você acorda!
-É que eu só tive George na minha vida,
nunca beijei ou fiz qualquer coisa com outro que não ele...
-Há quanto tempo vocês não transam?
-Hum... Que pergunta intima!
-Responde! Deixa de ser besta! Isso
é algo normal.
-Uns oito meses.
-Meu Deus do Céu! Como você dá conta?
Puta que pariu! Oito meses??? Eu já o teria traído sem pensar duas vezes.
-O casamento é assim mesmo.
-Não vou falar mais nada, vamos
fazer como combinamos e depois vemos o que fazer.
Como o combinado George voltou
depois de três semanas de mais uma caçada e Ana foi abordá-lo sobre as mesmas
questões que o irritavam, como o previsto ele foi para outro quarto e saiu de
manhã cedo sem dizer adeus. Ana montou o seu cavalo selado e partiu com Zangado
ao seu lado, que por cautela resolveu dar um tempo de distância para não serem
descobertos por George.
Cavalgaram mais ou menos três horas até
a floresta West Wood sem dificuldade, pois Zangado a conhecia como o gorro em
sua cabeça. Chegando a floresta começou o trabalho de rastreamento que os levou
próximo a um riacho, onde havia uma única barraca e dois cavalos grandes e
bonitos pastando, sendo um deles o de George.
Eles se aproximaram vagarosamente
sem fazer ruídos ficando atrás dos arbustos observando a uma distância que dava
para ver e ouvir nitidamente. Eles viram o que parecia ser outro homem dizer.
-Achei que você ia demorar mais
dessa vez...
-Eu até ia, mas Ana começou a encher
o saco e resolvi voltar imediatamente.
-Eu já estava até arrumando as
coisas para voltar, afinal também tenho uma esposa, tem um tempão que não vejo
Rapunzel e ela está esperando um filho.
-Pensei que você ia ficar feliz em
passar mais um tempo comigo.
-É claro que eu adoraria, mas não é
isso, você sabe...
-Sei o quê?
George foi se aproximando do outro
homem que o observava atentamente e Ana não pode acreditar no que via, os dois
estavam se beijando carinhosamente de um jeito que George nunca havia a
beijado, ela entrou em desespero, era como se o seu mundo estivesse desabando,
ela queria bastante que aquilo fosse um pesadelo ou uma piada de mau gosto,
Zangado não conseguiu esconder a sua indignação e ficou muito zangado com
aquilo, até que Ana saiu bruscamente dos arbustos gritando histérica.
-Que porra é essa? George?
A primeira reação de George foi de
completo espanto.
-Fodeu! – respondeu o outro homem.
-Então era isso o que fazia toda vez que
vinha caçar? Era isso o que você caçou todos esses anos?
-Calma Ana eu posso explicar...
-Você não pode explicar porra
nenhuma, porque essa merda não tem explicação. Príncipe encantado que nada,
você não passa de um homossexual, ruim de cama que vive de aparência. Faça o
favor de não voltar nunca mais naquele castelo.
-Espere me desculpe!
-Maldito Walt Disney!
Ela deus as costas e saiu com
Zangado que apesar de muito zangado assistiu aquilo calado, mas dizendo entre
os dentes.
-Quem diria hein...
E eles não foram felizes para sempre...
Dom
Juan Ricthelly. Gama-DF, Janeiro de 2013.
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